A amizade com Shirley Temple Black

O retrato que Michael mantinha junto à cabeceira de sua cama
''Eu conheci Shirley Temple em San Francisco, me sentei na sua mesa e chorei muito. Ela disse: 'O que aconteceu Michael?' Eu lhe disse: 'Eu adoro você. Preciso passar mais tempo com você.'

Ela seguiu dizendo: 'É um de nós, não é?' e disse: 'Sim, eu sou'. Alguém mais disse: 'O que quer dizer?' e ela respondeu: 'Michael sabe do que estou falando.'

E sabia exatamente o que queria dizer - estar ali com uma estrela infantil e fazer com êxito a transição da fama como adultos é muito difícil. Quando é uma criança famosa, as pessoas querem que você nunca cresça.
(Michael Jackson em entrevista à Gold Magazine em 2002)


''Quando eu recentemente me encontrei com Shirley Temple Black, a grande estrela-mirim da década de 1930 e 40, não dissemos nada um ao outro em primeiro lugar, nós simplesmente choramos juntos, pois ela poderia compartilhar comigo uma dor que os outros apenas meus amigos próximos Elizabeth Taylor e McCauley Culkin conhecem.'' 
(Michael Jackson no discurso de Oxford em 2001)


Michael fala sobre Shirley Temple ao rabino Shmuley

SB: Estávamos falando de Shirley Temple. Ela te disse que em você, ela achou um espírito de afinidade, pois você foi uma estrela mirim e ela foi uma estrela mirim?

MJ: Absolutamente.

SB: Então, você arranjou para ir visitá-la?

MJ: Bom, um amigo dela é amigo meu. Eu conheço esse cara por vinte e cinco anos, e ele é um doido. (Michael se refere ao produtor David Gest) Mas ele se tornou uma pessoa poderosa de verdade, pois produz muitos shows e faz todos esses eventos para celebridades, e ele é um cara legal. Então eu fui lá com ele.

Fomos muito também ao Memorabilia Convention porque eu adoro filmes memoriais. Eu estava disfarçado lá todos os dias, mas eu acho que eles sabiam que era eu. Mas foi divertido. Me diverti bastante com Shirley Temple.

SB: Quanto tempo passou com ela?

MJ: Muitas horas. Eu fui para a casa dela. Saí de lá me sentindo batizado, mesmo. Eu não sabia que iria acabar chorando quando a visse e eu chorei. Eu disse "Você sabe como salvou minha vida!" Ela disse "Como assim?" Eu disse "Muitas vezes, eu estive no fim, prestes a jogar a toalha, e então eu apenas pegava sua foto e sentia que havia esperança e que podia sobreviver a isso!" E ela respondeu. "Mesmo?" Eu disse "Sim!"


Tinha um cara que viajava comigo. O trabalho dele era, antes de eu chegar ao hotel, ele deveria colocar fotos de Shirley Temple no quarto. Eu fiz isso por muitos, muitos anos. Todas as fotos dela e recortes, era o que ele fazia. Então quando eu chegava, eu a via. Eu a tinha no espelho do camarim. Ela era tão feliz.

Ela disse "Eu te amo, quero que sejamos mais próximos. Quero que você ligue para mim, entendeu?" Ela olhou para mim e disse "Sinto muito, eu cresci!" Eu disse "Você não deve se desculpar, pois eu sei como é, passei por isso!"

Houve uma vez, eu estava num aeroporto - e eu nunca me esquecerei disso enquanto eu viver - e tinha uma senhora que disse " Oh, os Jackson 5. Oh meu Deus! Onde está o pequeno Michael? Onde está o pequeno Michael?" eu disse "Estou aqui!" Ela disse " rhhhg! O que aconteceu?"

Eles querem que você fique jovem e pequeno para sempre. Você passa por um estágio estranho e eles querem te manter pequeno. Ela [Shirley Temple] passou pelo pior, pois ela não só passou por esse estágio, era o fim da carreira dela. Mas eu me formei em outras coisas. Muitas das estrelas mirins não conseguem por que se tornam auto destrutivas. Elas se destroem por causa dessa pressão.

SB: Que tem a pressão?

MJ: A pressão que eles foram tão amados e quando alcançam certa idade, os estúdios não os querem mais. O público não os reconhece mais. Há um 'deu de si'. Muitos deles não passam dos 18 ou 19, ou em seus 20 anos... Essa é a verdade - como em Our Gang Kids. Bobby Driscoll que fez So Dear to my Heart, Song of the South, morreu aos 18. Todas essas pessoas, se você traçar a vida delas, é a mesma coisa, é duro.

SB: Você conversou sobre isso com ela?

MJ: Sim, conversamos.

SB: Como foi para ela a transição de ser uma grande estrela mirim para uma pessoa adulta sem mais bonitinha?

MJ: Ela disse que foi muito forte e que isso foi muito duro e que chorou muito. E você chora muito. Eu chorei bastante. Ela foi muito forte com isso, e é duro. Ela está escrevendo outro livro. Ela escreveu um. Está escrevendo outro. O primeiro se chama Child Star. Eu não li. Não estou pronto para ler.

Shirley virou desenho na Disney
SB: Você sente que ela é uma das poucas pessoas que te entendem, pois você não teve infância como ela?

MJ: Eu disse para ela "Você curtiu?" Ela disse que adorou e eu disse "Eu adorei também." Eu adorava estar no palco e adorava performar, mas há aqueles como Judy Garland, que eram empurrados para lá, que não queriam fazer isso, e ficava difícil. Elizabeth passou por isso. Ela passou um inferno e ela foi uma estrela mirim, e por isso que nos entendemos tanto. Nós entendemos mesmo.

SB: Todas as estrelas mirins são como você? Todas elas amam crianças?

MJ: Todas amam crianças, todas. Elas têm essas coisas para brincar em volta delas e agem como crianças, porque nunca tiveram a chance de ser crianças. Elas têm essas coisas divertidas em casa e ninguém entende. Nunca houve um livro escrito sobre isso, por que há pouco de nós que sobreviveram e podemos falar sobre isso. Não é fácil... Não é fácil.

SB: Você se sente seguro perto dela? Você disse que se sentiu batizado. Você se sentiu redimido estando na presença dela?

MJ: Mmmm, sim. [Ele começa a chorar] Eu não sei se você entende.

SB: Para ser honesto, não completamente, mas eu quero compreender.

MJ: Não compreende mesmo, compreende?

SB: Eu tenho tentado. Apenas explique para mim de onde vem a dor? Você consegue explicar, ou quando você está perto de Shirley você não tem que explicar. Ela apenas entende?


MJ: É como telepatia. Você consegue sentir a fala do outro e olhar nos olhos e eu a sinto, e ela me sente assim. Você pega e detecta tão rápido. É como se comunicar silenciosamente. É assim e eu sabia que me sentiria assim quando a visse, eu sabia. É o mesmo com Elizabeth [Taylor].

SB: Qual é a origem da sua dor, Michael? Quando você chora assim, o que machuca?

MJ: O que machuca é que tudo acontece tão rápido e o tempo passa tão rápido. Você sente que perdeu tanta coisa. Eu não faria de novo nada disso. Mas a dor vem do fato de que você não teve mesmo a chance de fazer coisas simples e importantes e isso dói. Coisas pequenas e simples como, eu não sei... Eu nunca tive aniversários, natais ou dormi na casa de amigos ou nada dessas coisas simples e divertidas. Ou fazer compras, pegar coisas na prateleira, sabe, essas coisas simples como sair na sociedade e ser normal.

SB: Então o mundo inteiro sonha em estar diante de cem mil pessoas num concerto e você está sonhando com as pequenas coisas que todo mundo faz?

MJ: Por isso que quando faço amizade, geralmente não é com celebridades, geralmente é com famílias simples e normais em algum lugar. Eu quero saber como é a vida deles. Foi por isso que eu fui àquela cabana na China ou para algumas daquelas casas flutuantes na América do Sul. Eu quero saber como é. Eu já dormi em lugares loucos onde as pessoas dizem "Você está doido?" e eu digo "Não, eu quero saber como é."

SB: O quê você sente que perdeu? Você sente que perdeu algo essencial na vida? É quase como em sua infância, que você pode ser amado sem ter que se provar. É isso o que você sente falta? Que você sempre tenha que trabalhar, se testa, você não poderia apenas viver? Você tinha que ser avaliado, julgado, encarado. Você é um item de curiosidade?

MJ: Sim, e você fica cansado e se desgasta. Não dá para ir a algum lugar onde não manipulem o que você faz o que você diz, isso me incomoda muito, e você não tem nada a ver com o que eles escrevem, nada. Ser chamado de Whacko (doido), isso não é legal. As pessoas pensam coisas erradas sobre você, porque eles inventam. Eu não sou nada disso. Eu sou o oposto.

SB: Alguém disse que a essência da solidão é sentir que não é compreendido. Você se sente sozinho onde está por essa razão?

MJ: Sim, claro.

SB: Você está por sua conta, e se sente tocado quando está com alguém como Shirley Temple, pois sente o mesmo tipo de solidão?

MJ: Sim, ela entende. E você pode falar com ela. É difícil fazer outras pessoas entenderem por que não passaram por isso. Você tem que sentir, você tem que tocar, saber como é de verdade.

SB: Shirley Temple manteve as qualidades de criança do jeito que você manteve? Ela é brincalhona, ou você puxou isso para fora dela?

MJ: Apenas estava lá, ela veio até a porta de avental. Ela estava cozinhando e depois almoçamos. Ela ficava tocando a minha mão sobre a mesa, carinhando-a, como se soubesse o que fazer, entende? Depois ficamos à mesa e conversamos, apenas isso. Eu estava vendo aquelas fotos maravilhosas. Ela tinha cada filme que tinha feito em sua figura pitoresca naquele livro e eram todos originais de Georige Hurrel, um grande fotógrafo, e você vê essas coisas e é incrível.

Ela tinha todos os vestidos que tinha usado nos filmes. Ela tinha tudo. Eu prometi para ela que faria um museu para estrelas mirins e ela me daria o que tinha para o museu e eu iria conseguir outras coisas, todas as fotos, tudo, para honrar estrelas mirins. As pessoas não sabem o que aconteceram com elas.

Eu não acho que as pessoas saibam que Bobby Driscoll desapareceu por mais ou menos um ano e ninguém o reconheceu. A própria família dele não sabia que ele estava num túmulo pobre, por overdose de heroína. Ele era um gigante da Disney, a voz de Peter Pan. Ele fez So Dear To My heart. Ele ganhou um Academy Award por The Window e Song of the South. Eu vejo esses jovens e consigo me identificar com eles assim.

SB: Você vai vê-la novamente?

MJ: Oh sim. Vou convidá-la para Neverland. Ele me pediu para dar um alô para Elizabeth. Ela perguntou muito por ela.

SB: Elas se conhecem?
MJ: Elas têm se visto e passado algum tempo juntas. Mas eu disse para Elizabeth hoje e ela disse "Ohhh. Você precisa dizer 'Oi' por mim." Eu contei para Elizabeth que passei o final de semana com ela, e ela disse "Passou?" eu disse "Sim." E ela ficou chocada porque eu tenha ido lá. Foi ótimo.

SB: O que havia em Shirley Temple, especificamente, que te tocou profundamente, e você acha que qualquer garotinha possa ter uma Shirley Temple por dentro?

MJ: A inocência dela, como ela me faz sentir bem, quando eu estou tão triste. Era tanto pela dança e canto dela. Era o ser dela. Ela tinha o dom de fazer as pessoas se sentirem bem, por dentro. Todas as crianças têm isso, cara, ela é tão angelical comigo e toda vez que a vejo, pode ser em filme ou em uma foto, eu me sinto tão bem. Eu tenho fotos dela em todo o quarto lá. Me faz tão feliz.

SB: Você viu Shirley Temple em Shirley Temple Black quando a viu aqui? Ela ainda era uma garotinha? Ela era como você? Ela manteve a inocência de criança, ou você puxou isso nela?

MJ: Ainda está lá. Ela é tão doce.

Em outra conversa com o rabino

MJ: Sabe, é como telepatia. Eu gostaria que você pudesse ter visto Shirley Temple e eu.

(Apenas algumas semanas antes dessa conversa Michael tinha ido visitar Shirley Temple Black em São Francisco.)

SB: Você ainda tem contato com ela?

MJ: Vou ligar para ela. Eu tenho que ligar para ela de novo. Eu sempre a agradeço e ela continua me perguntando porquê e eu respondo: " Por causa de tudo o que você fez por mim!"

SB: Acha que irá dedicar uma canção para ela?

MJ: Eu adoraria.
A infância roubada

Shirley Temple é considerada a atriz-mirim mais famosa de todos os tempos - e também a criança mais fotografada do mundo, estrelando mais de 40 filmes e 50 produções para televisão.

Ela ganhou um Oscar honorário com apenas seis anos de idade, em 1935, por sua contribuição ao cinema. Sua imagem também aparece na manga do álbum do Beatles - Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band.


Assediada pelos fãs, ela não poderia sair à rua sem um guarda-costas, por causa dos ''caçadores de lembranças''. Muitos tentavam roubar um de seus famosos cachinhos de cabelos - sempre no total exato de 56 - preparados por sua mãe.

Aos três anos, Shirley foi contratada pelo estúdio Educational Films, onde o regime era de trabalho escravo infantil. Ensaios significavam duas semanas sem remuneração. Cada filme era, então, gravado na velocidade de dois dias, onde ela recebia apenas US $ 10 por dia.

Para qualquer criança que se comportasse ''mal'', havia a "caixa de punição", uma sinistra caixa preta contendo apenas um grande bloco de gelo, onde as crianças eram forçadas a ficar confinadas. Shirley foi colocada dentro desta caixa diversas vezes.

Ela também foi obrigada a trabalhar no dia seguinte a uma cirurgia de ouvido, e em outra ocasião, a dançar com um pé gravemente ferido.

Com a idade de cinco, foi convidada a fazer um teste na Fox Film Corporation em 7 de Dezembro de 1933. Posteriormente foi ''emprestada'' à Paramount. 

Para fazê-la chorar em determinadas cenas, o diretor deste estúdio aterrorizava a menina, lhe dizendo que sua mãe tinha sido sequestrada por um homem feio, todo verde com olhos vermelho-sangue, enquanto aproveitava para filmar suas lágrimas de desespero. Em outra ocasião, lhe foi mentido que seu gatinho de estimação havia morrido, quando novamente, ela caiu em prantos. 

Depois de uma disputa legal prolongada, o salário de Shirley na Fox aumentou mais de seis vezes, com a mãe agora recebendo US $ 250 por semana. Para cada filme concluído, houve também um bônus de US $ 15.000 colocados em depósito para ela, e mais tarde, subindo para US $ 35.000. Em todo esse tempo, no entanto, o maior valor que a menina viu de seu salário foi US $ 13 por mês em dinheiro, no bolso.

Depois de crescer, Shirley Temple não alcançou o mesmo sucesso e, na década de sessenta, ingressou para a política, chegando a ser embaixadora dos E.U.A. na Chescoslováquia.
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Fontes:
http://www.dailymail.co.uk
http://www.cinemaclassico.com
http://cartasparamichael.blogspot.com.br/2011/10/michael-fala-com-shmuley-parte-44.html
http://cartasparamichael.blogspot.com.br/2011/09/entrevista-gold-magazine-em-2002.html