A magia do show ''This Is It''


Era um dia brilhante de verão em Topanga Canyon, no mês passado, na manhã após a morte repentina de Michael Jackson que surpreendeu o mundo. O diretor Bernt Capra estava caminhando para casa até Fernwood Pacific... com a marcha lenta de um homem, em pensamento profundo.

Ele tinha um envelope que tinha acabado de pegar de sua caixa postal. Nele, estavam as últimas fotografias dos cenários, os quais havia projetado para os cinquenta concertos de This Is It.

"Isso é muito triste, porque nós projetamos esses cenários para Michael atuar. Michael Jackson era original como Elvis. Ninguém pode tomar o seu lugar nestes cenários."

"Realmente, me dói pensar que todo esse trabalho nunca será exibido. A ideia de fazer este concerto um evento teatral estava indo muito bem e eu não acho que haverá qualquer maneira para que possamos vê-lo, agora. Me dói que nunca vai ser visto do jeito que deveria ser."

Capra trabalhou em Los Angeles com Michael Jackson para transformar seus conceitos de design para os shows na O2 Arena em uma realidade sobre os quatro maiores estágios nos Estúdios de Culver, em Culver City, todos 235 x 150 pés e 45 pés de altura.


Estes foram os mesmos cenários onde foi filmada a queima de Atlanta em Gone With the Wind [...E o Vento Levou] .

"Esta foi supostamente a maior tela de LED já foi montada. Eram 33 x 100 pés de largura ... para cobrir todo palco com fundo de vídeos filmados em 3D, os quais seriam exibidos todo tempo (o público ganharia óculos 3D com suas entradas) e o efeito 3D dos dançarinos fantasmas e os cenários que combinam perfeitamente com os bailarinos reais ao vivo no palco, como um holograma, para dar uma imagem final para o público."


"Teríamos lobos e corvos voando no cenário do cemitério. Teriam múmias e zumbis no cemitério e os zumbis estariam vestidos como personagens históricos, Luís XIV, Napoleão, um soldado federal... Estou muito triste que o meu pirata nunca será visto."

O dançarino Shannon Holtzapffel é a múmia no curta 3D de Thriller
O dançarino Charles Klapow é o General
Capra trabalhou no remake de cinco vídeos para turnê de Jackson: Thriller, The Way You Make Me Feel, Smooth Criminal, They Don't Care About Us e Earth Song.

Michael Jackson e Kenny Ortega no cenário do vídeo Thriller 3D 




Michael durante ensaio de They Don't Care About Us
"Eu sei de todos os rumores sobre Michael Jackson, mas o que eu posso dizer é que foi o mais agradável para trabalhar, não havia nenhuma máscara, sempre se vestia elegantemente, definitivamente era Michael Jackson, vestindo uma jaqueta preta de estilo militar com trança elaborada em ouro para ensaiar, uma jaqueta de couro vermelho com bordados... mas Michael era informal, muito acessível, super simpático e muito atento.''

''Michael nos apresentou a seus filhos, quando os levou para conhecer os cenários. Os meninos eram crianças normais, crianças muito felizes e só queriam brincar no cenário do cemitério e ele brincou com eles, parecia um pai natural e tenho certeza que ele amava seus filhos e, obviamente, adorava-os."

"Michael Jackson amava a arte e tinha amplo conhecimento sobre fotografia, gostava do fotógrafo Lewis Hine, que tinha sido um assistente social na era da Depressão e tirou fotos de vítimas do trabalho infantil, quatro, cinco, seis anos trabalhando em fábricas e minas.'' 

''Também ficou conhecido por uma coleção de fotos da construção do Empire State, que é agora, muito valiosa. Michael adorava isso e tomou como base para o cenário de The Way You Make Me Feel, fotos de homens em construção nas vigas de aço, como se estivessem no topo de um arranha-céu, fazendo uma pausa para o almoço.''

Criação do vídeo em 3D para a apresentação
de The Way You Make Me Feel
A fotografia de Lewis Hine que serviu
de inspiração para Michael Jackson
"Sua vida foi, obviamente, um pouco surreal. Quando eu comecei a trabalhar, tinha que vir com fortes medidas de segurança, é claro. Havia uma comitiva de seguranças com ternos pretos, pelo menos quatro guarda-costas. Inclusive tínhamos uma senha para as fases de produção Culver City - "DOME"

''Fomos o Projeto Dome, a AEG estava, obviamente, preocupada com a segurança. Chegava em um dos dois ou três novos SUV Cadillac preto, que o acompanhava aos ensaios. Um veículo para ele e para as crianças, um levando os quatro guarda-costas e, às vezes, tinha um terceiro carro, para se livrar dos paparazzi. Nenhum dos carros tinha placas.''

"Geralmente, quando Michael vinha aos cenários, ele estava lá para trabalhar; ele só queria nos mostrar o que ele estava criando, para coreografar os bailarinos com Travis Payne e o diretor Kenny Ortega, que também é coreógrafo há bastante tempo.''

''Os ensaios eram impressionantes de se ver. Creio que Michael criou todos os movimentos, Michael desafiava as leis da natureza. De onde eu estava, uns 30 pés de distância do palco, parecia que estava dançando como fazia a trinta anos, era bonito de ver. Era tão ágil, e sua dança era tão fluída, não há ninguém que poderá dançar assim, para mim não há dançarino melhor, nem Nureyev, nem Fred Astaire.''

Michael repassa a coreografia para os
bailarinos junto a Travis Payne 
''Uma coisa que você percebia, ao se encontrar com Michael, era sobre o seu carisma natural, não sei como chamá-lo, realmente não sei se é uma reação química, porque eu trabalhei com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, mas trabalhar com Michael era diferente de tudo o que eu tenho experimentado.''

''Tínhamos apenas cinco semanas para passar, da concepção à produção, houve pouco tempo para um projeto como este, mas cada vez que eu o via, era muito amável comigo, era muito agradável. Não havia tempo para fazer as coisas, tudo tinha de ser aprovado e não havia como voltar atrás. Eu o vÍ pela primeira vez, quando estávamos na metade da fase de construção dos cenários, em um espaço que tinha alugado para ele ensaiar.''


Capra conseguiu o trabalho através de um produtor, um velho amigo que estava trabalhando fazendo alguns filmes virais de internet, e se colocou nisto casualmente, através de outro produtor que havia trabalhado com ele, antes.

''Não me disse por telefone do que se tratava o projeto, mas quando me perguntou se queria trabalhar com ele, disse que sim, mas não sabia do que se tratava. Por isso, fui em uma reunião com Robb Wagner, da Stimulated Incorporated, a qual estava a cargo da execução de todo o projeto (que fez parte, também, do Memorial) e me apresentaram a Robb Wagner e Bruce Jones. Nos sentamos à mesa para nossa reunião, e vi que se tratava de um projeto maior que eu pensava.''

"Nada em Michael Jackson era pequeno. Realmente, tudo o que fazia era com grande orçamento, assim nunca recusaram nada do que pedimos, mas nos disseram que tínhamos que ser rápidos, tudo teria que ser feito sempre pelas 'melhores pessoas', com um grande orçamento.''

''Eu trabalhei com a artista conceitual Loebart Nicole e seu marido, o diretor de arte William Budge. Me sentei com ela, mais as fotos e as ideias e estes desenhos conceituais elaborados em seu computador, tudo foi aprovado para que pudéssemos começar a construir os cenários.''

"Michael Cotton desenhou os cenários e os construiu. Bruce Jones, co-produtor a cargo dos efeitos visuais, foi o criador digital, fazendo as peças de tecnologia. Todo o show foi como uma representação de ópera extravagante. O palco foi concebido como um grande espetáculo musical da Broadway, mas no lugar da reconstrução do cenário, entre as canções (Michael queria que o espetáculo fosse transparente, não haveria tempo) os cenários eram os vídeos em 3D que fizemos.''

Capra administrou todo o material de construção em Topanga Lumber.

Bernt Capra, diretor de arte em This Is It

Fontes:
Texto de Cassandra Wiseman
Fotografias de Bernt Capra
Créditos: MJBeats